Sobre não se achar boa o suficiente, conquistar as coisas e como eu fui parar nas olimpíadas

foto: Giuliana Carrapito

Era o mês de junho. Fechamento das notas da faculdade. Stress no último grau.
Nova notificação no grupo do facebook da sala.


Era um formulário, e seu título era "Você nas Olimpíadas". Como não entendi do que se tratava, e se tem algo que jornalistas são é curiosos, abri o tal formulário. Se tratava de um processo seletivo que deveria ser preenchido totalmente em inglês para ter a oportunidade de passar uma semana no Rio de Janeiro durante as Olimpíadas com tudo pago para ajudar estudantes de uma universidade americana a produzirem material sobre a o Brasil e as Olímpiadas.

Sabe como todo mundo tem uma história para contar da coisa mais legal que conquistou na vida? Eu não. Vi no formulário uma oportunidade de ter finalmente uma resposta para a pergunta "qual a coisa mais legal que já aconteceu com você?". Entretanto, não me inscrevi naquela hora. Até parece que eu ia passar - a que não sabe nada sobre regra de esporte, com o inglês que tropeça no nervosismo e nesse ponto eu já estava me convencendo que nem merecia ganhar essa viagem.

Uns dias depois pensei na vontade que eu tinha de visitar para o Rio de Janeiro. Abri o formulário, preenchi ele todo, fiz um pensamento positivo e mandei minha inscrição - já no deadline do fechamento.

Esqueci que tinha me inscrito no processo até receber um e-mail: "Você foi selecionada para a segunda fase!". Agora a segunda fase era uma prova presencial e em grupo. Já tinha na minha cabeça a ideia de que teria que responder a clássica pergunta "Porque devemos escolher você?". Treinei minha resposta - português e inglês, claro. Cheguei confiante para a segunda fase. Yes I can!

Cheguei no lugar e conheci as minhas "concorrentes". Meu inglês seguiu tropeçando nas palavras durante todo o processo enquanto eu tinha a leve sensação de que todas as minhas concorrentes tinham respostas melhores que as minhas. Para terminar o processo, uma prova em inglês sobre o Rio de Janeiro e as Olimpíadas. Metade de mim era "Você está fazendo um jogo comigo garota?" e a outra metade era "É aquele ditado né? Graças a Deus" (Inês Brasil representando os momentos críticos da minha vida).

Eu e todas as meninas saímos do processo sabendo que ali tinha sido o nosso fim. Só pelo formulário, metade dos concorrentes tinham sido cortados, e agora na segunda fase, o corte também seria de 50%. Senhor Jesus Cristo, se essas meninas que foram bem estão preocupadas qual será o meu futuro?

Desencanei. Não era para ser. Fazer o que. Você foi até a segunda fase, já é algo para se orgulhar certo? Vida que segue. Let it go.

Uma semana depois minha mãe veio me visitar. Casualmente contei para ela durante um passeio pela cidade que tinha me inscrito para esse processo (não tinha contado para ninguém além do meu melhor amigo - esse foi o jeito que aprendi a não me decepcionar: não conte para ninguém e finja que não se importa. Aos poucos você se convence de que realmente não é nada demais) mas que sabia que não ia passar. Ela ficou feliz por eu ter passado pela primeira triagem e triste por eu achar que tinha ido tão mal.

Voltamos para casa em uma sexta-feira normal. Abri meu e-mail e vi que tinha recebido o resultado da segunda fase. Respirei bem fundo. Sem expectativas, sem expectativas, sem expectativas.

Este e-mail é para informar que você foi selecionada para a próxima etapa do processo seletivo do programa das Olimpíadas.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH

Sentei no chão e fiquei lá por uns dez minutos. Só conseguia falar "eu não acredito". Minha mãe num misto de alegria e de "por que raios você não confia mais em você?" tentava me fazer acreditar que eu sou sim capaz de conseguir conquistar as coisas que eu quero.

Chegamos na etapa final dessa novela. Para garantir a minha viagem, o último passo era entrar em um skype call com um responsável pela universidade que me foi designada e em 15 minutos responder suas perguntas, para assim convencê-lo de que eu, e não meus concorrentes era a pessoa certa para ser escolhida. 

Acordei com febre. Febre com todas as letras: f-e-b-r-e. Fiz hora extra no trabalho com os olhos vidrados no relógio. Faltavam cinco horas, e de repente faltavam duas, e de repente, não mais que de repente faltavam cinco minutos. Abri o Skype. Deu o horário em ponto. Passou um minuto. Passaram-se dois minutos. Passaram-se cinco minutos. Meu deus do céu, os americanos são pontuais, será que isso é um sinal?

Recebi um Skype call que já começou com desculpas do meu entrevistador pelo pequeno atraso. Me conte sobre você, qual sua experiência com jornalismo esportivo? Por que devo escolher você? Qual o seu nível de inglês? Já trabalhou com tradução? Já foi para o Rio de Janeiro antes?

Os 15 minutos se transformaram em 8. Parte de mim era confiança e a outra parte mal conseguia respirar de nervoso. "Você receberá o resultado por e-mail até segunda-feira". Era terça. Recebi um e-mail na quinta-feira de manhã.

Algo me dizia que não eram boas notícias.
Não eram.
Não passei.
"Não passei e não quero falar sobre" "Não precisamos" a comunicação com o meu melhor amigo sempre foi fácil e eficiente.

Droga.
Tão perto.
Não podia evitar me sentir uma perdedora.
Onde raios foi que eu errei????????

A voz da minha mãe veio na minha cabeça me dizendo "Peça para o melhor acontecer. Às vezes conseguir não é o melhor para você. Algumas coisas acontecem por um motivo"

Fui para a casa na sexta-feira.
Enquanto minha mãe dirigia pelas ruas de Sorocaba, cada brecha da nossa conversa parecia ideal para contar para ela que não tinha passado - embora eu estudasse cuidadosamente a possibilidade de nunca contá-la.

Ninguém comemora uma quase vitória.
Acabei me sufocando com as palavras.

Cheguei em casa e comecei a assistir um filme. Durante a metade do filme meu celular apitou com um snap novo. Era uma foto e a legenda era comemorativa "nós vamos juntos". Juntos pra onde?????? Abri a foto. Era um print de um e-mail dizendo que eu e o meu amigo fomos selecionados para ir para as Olimpíadas com outra faculdade. 
Era madrugada, mas não importava: liguei pra minha mãe, liguei pro meu pai, contei pro meu vô.

Talvez o meu destino era ser designada para outra faculdade.

No outro dia, antes mesmo de ouvir "oi" das pessoas eu ouvia "parabéns". Minha família simplesmente contou para todo mundo, dos parentes distantes ao seu Zé da padaria. E mesmo assim, quando eu queria externar a minha felicidade para as pessoas, algo me impedia.

Não passou no processo? Você não era boa o suficiente
Passou no processo? Nem era tão difícil, você nem é assim tão boa.

Esses são alguns capítulos da minha vida, dia após dia.

Que atire a primeira pedra quem nunca achou que era bom o suficiente um dia.

Quem achou que não era bom o suficiente para ganhar aquela promoção, quem achou que não era bonito o suficiente pra ficar com aquela pessoa e quem achou que não era inteligente o suficiente para conseguir aquela vaga na faculdade dos sonhos.

Damn.
Eu trabalhei duro por essa viagem!
Eu tenho todo o direito do mundo de poder contar para as pessoas sem me sentir culpada.

Eu fui para o Rio. Foi uma das melhores semanas da minha vida. Experiência única na vida. Fui aceita pela Ball State de maneira que nem tenho palavras para agradecer ao carinho que todos tiveram por mim. Era para ser Ball State, eu não tenho dúvidas. Talvez algumas coisas realmente aconteçam por um motivo.

Hoje eu percebo que eu era totalmente preparada e atendia á todos os requisitos que as universidades gostariam. Graças a Deus minha mãe nunca deixou eu desistir das aulas de inglês. Estou colhendo o que plantei. Graças a Deus a vida me ensinou a lutar pelo que é meu. I SEE IT, I WANT IT. Graças a Deus eu não me deixei acomodar durante os anos.

Dia após dia eu tenho que trabalhar na minha confiança.
Às vezes ela é esmagadora e ás vezes ela se intimida.
Com ela ou sem ela, não vou parar de lutar para conquistar o que é meu.

Cito a grande pensadora contemporânea Anitta para dizer que "Eu posso conquistar tudo que eu quero" e também desejo que todos vocês percebam que a vida incrível (aquela do instagram daquela pessoa que você gostaria de ter a vida) está lá fora e não dentro do seu quarto. As coisas incríveis não vem da zona de conforto. Dreams don't work unless you do. Para acabar com esse texto que mais parece um livro de auto-ajuda, acredito que posso resumir toda a minha experiência em uma frase:

'If you're not scared then you're not taking a chance. If you're not taking a chance then what the hell are you doing anyway? (se você não está com medo, você não está se arriscando. Se você não está se arriscando, então o que diabos você está fazendo?)

Enfim, achei válido compartilhar minha experiência com vocês - deve ser coisa de escritor que sente a necessidade de se derramar pelas palavras, se expor mesmo que perigoso parece irresistível.

Às vezes a gente precisa daquele tapa na cara para sair da zona de conforto. Quem sabe eu não sou o seu?

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